CENTRO TERAPÊUTICO DE BENAVENTE

PODE PARECER PREGUIÇA, MAS É ANSIEDADE

Vivemos numa sociedade que valoriza o fazer constante, a produtividade incessante, e o movimento contínuo. O tempo para parar é visto como uma fraqueza, um sinal de falta de ambição ou, pior ainda, de preguiça. No entanto, há uma realidade que muitas vezes fica invisível aos olhos dos outros — o que parece preguiça, o que parece falta de motivação ou de vontade de agir, pode ser, na verdade, um sintoma de algo muito mais complexo e debilitante: a ansiedade.

Quando se fala de ansiedade, a imagem que surge na mente de muitos é a de alguém agitado, nervoso, incapaz de ficar quieto. No entanto, a ansiedade manifesta-se de formas muito diferentes em cada pessoa, e uma das suas manifestações mais incompreendidas é a paralisia que provoca, a sensação de bloqueio que impede a ação. O cérebro, em estado de ansiedade, pode tornar-se o nosso maior inimigo, sabotando a nossa capacidade de avançar, de tomar decisões e de realizar tarefas que, em circunstâncias normais, seriam simples e rotineiras. Esta realidade é comum, mas frequentemente incompreendida. Quando alguém se vê incapaz de sair da cama, de cumprir as suas obrigações ou de realizar pequenas tarefas do dia-a-dia, é fácil que tanto a pessoa em questão quanto quem está à sua volta interpretem isso como preguiça. No entanto, muitas vezes, o que está a acontecer é uma sobrecarga mental causada pela ansiedade. O cérebro ansioso fica preso em padrões de pensamento cíclicos, que repetem preocupações, medos e cenários negativos, consumindo toda a energia e deixando a pessoa exausta, sem capacidade para agir.

Imagina o seguinte: tens uma lista de tarefas a cumprir, e cada uma delas parece pequena e simples. No entanto, o teu cérebro, em estado de ansiedade, começa a ampliar cada uma dessas tarefas. De repente, o que antes parecia uma coisa fácil de fazer transforma-se numa montanha intransponível. A tua mente começa a imaginar tudo o que pode correr mal, as consequências de não fazeres aquilo a tempo, as possíveis falhas no teu desempenho. Esta espiral de pensamentos pode ser tão intensa que a pessoa acaba por congelar, incapaz de começar. Para quem observa de fora, parece apenas procrastinação ou preguiça. Para quem está a viver isto, é uma luta interna desgastante. É importante, então, desmistificar a ideia de que todas as vezes que alguém adia uma tarefa ou parece estar a evitar responsabilidades, isso se deve a preguiça. A ansiedade pode ser uma força paralisante, que drena a motivação e a energia emocional. A pessoa ansiosa muitas vezes sente-se sobrecarregada antes mesmo de iniciar qualquer coisa, e isso é exaustivo. E o ciclo torna-se vicioso: quanto mais tempo passa sem fazer o que precisa, mais ansiosa a pessoa fica, reforçando a sensação de incapacidade e aumentando a paralisia. E com isso, cresce a sensação de fracasso e de inadequação. O julgamento da sociedade, e muitas vezes de nós próprios, agrava ainda mais este ciclo. A pressão para ser produtivo, para estar sempre a fazer algo, leva-nos a olhar para a inatividade como algo errado. Dizemos a nós próprios que estamos a falhar, que somos incapazes, e assim mergulhamos mais fundo na ansiedade. A crítica interna é muitas vezes mais cruel do que qualquer palavra que possamos ouvir dos outros, e ela só alimenta o ciclo da ansiedade.

Como podemos, então, quebrar este ciclo? O primeiro passo é reconhecer que a ansiedade é real e que pode ter um impacto profundo na nossa capacidade de agir. É necessário desenvolver uma compreensão mais compassiva de nós próprios e dos outros. Quando olhamos para alguém que parece estar a “fazer nada” ou que parece estar a evitar responsabilidades, precisamos de lembrar que não conhecemos a batalha interna que essa pessoa está a travar. E o mesmo vale para nós próprios: em vez de nos criticarmos por não conseguirmos agir, é importante praticar a autocompaixão, perceber que estamos a enfrentar um desafio emocional que precisa de ser tratado com paciência e gentileza. Há também estratégias práticas que podem ajudar a gerir a ansiedade e a ultrapassar esta paralisia. A terapia cognitivo-comportamental, por exemplo, ensina-nos a identificar os padrões de pensamento que nos bloqueiam e a reformular esses pensamentos de forma mais saudável e funcional. Técnicas de mindfulness e meditação podem ajudar a acalmar a mente, permitindo que a pessoa recupere o foco e a capacidade de agir. Mesmo pequenas práticas diárias, como dividir as tarefas em partes mais pequenas e concretizáveis, podem fazer uma grande diferença no combate à sensação de sobrecarga.

Por fim, é fundamental procurar ajuda quando necessário. A ansiedade é uma condição real e tratável, mas muitos de nós sentem vergonha de admitir que estão a lutar contra ela. O medo de ser visto como preguiçoso ou incapaz impede muitas pessoas de procurar o apoio de que precisam. No entanto, é exatamente esse apoio — seja através de amigos, familiares, ou de um profissional de saúde mental — que pode fazer toda a diferença no processo de recuperação. No fundo, precisamos de mudar a nossa mentalidade coletiva sobre o que é a ansiedade e como ela se manifesta. Nem sempre o que parece ser inatividade é preguiça. Nem sempre a procrastinação é falta de vontade. Às vezes, é apenas ansiedade — uma força que, por vezes, parece impossível de controlar. Com compreensão, compaixão e as ferramentas certas, é possível aprender a gerir a ansiedade e recuperar o controlo sobre as nossas vidas. E, nesse processo, é importante lembrar que, mesmo quando estamos parados, estamos a lutar.

Tags :
ANSIEDADE,Medicina Chinesa

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