CENTRO TERAPÊUTICO DE BENAVENTE

SER MULHER

Ser mulher no século XXI é viver no equilíbrio delicado entre conquistas e desafios, entre liberdade e expectativas, entre poder e vulnerabilidade. E, para mim, que sou filho, marido e pai de uma menina, este é um tema que não é apenas abstrato – é profundamente pessoal. Cresci com uma mãe que me ensinou a respeitar e admirar a força feminina, casei com uma mulher que todos os dias me mostra o peso das exigências contemporâneas, e agora olho para a minha filha e pergunto-me: que mundo estamos a construir para ela?

Vivemos num tempo em que as oportunidades se multiplicaram, em que as mulheres podem ser médicas, engenheiras, empresárias, escritoras, mães, ou tudo ao mesmo tempo. Mas, ao contrário do que se costuma dizer, não se pode ter tudo. Escolhas exigem renúncias, e esse é talvez um dos maiores dilemas da mulher contemporânea: como equilibrar ambição e família, trabalho e vida pessoal, autonomia e intimidade? Vejo isso na minha esposa, que quer crescer na sua carreira sem abrir mão de ser mãe presente. E sei que a minha filha, um dia, também enfrentará este dilema. A maternidade continua a ser um tema incontornável. Ainda que as mulheres tenham hoje mais controlo sobre quando e se querem ser mães, a verdade é que a biologia não se compadece com carreiras ou planos individuais. O relógio biológico não obedece às regras do mercado de trabalho. E, apesar de muitos avanços, a sociedade continua a ver a maternidade como um “projeto pessoal” da mulher, e não como um pilar fundamental da própria civilização. Exige-se que sejam mães dedicadas, mas sem que isso afete a produtividade; que sejam profissionais exemplares, mas sem que a sua feminilidade se torne um obstáculo ou uma “desculpa”.

E o que dizer das relações? A mulher do século XXI vê-se constantemente a tentar equilibrar a sua independência com a sua necessidade de conexão. Se, por um lado, a liberdade financeira e emocional a empoderam, por outro, há um cansaço profundo de tantas responsabilidades acumuladas. O feminismo prometeu liberdade, mas, para muitas, a sensação é de sobrecarga. Deixou-se de depender dos homens, mas muitas vezes, paradoxalmente, também se perdeu a possibilidade de contar verdadeiramente com eles. O desejo por companheirismo, por proteção mútua, por relações sólidas e significativas continua a existir, mas parece mais difícil de concretizar num mundo onde o compromisso e a estabilidade são cada vez mais escassos. Como homem, pergunto-me qual o meu papel neste cenário. Como posso ser um marido que alivia e não sobrecarrega? Como posso ensinar o meu filho a respeitar, mas também a compreender verdadeiramente as mulheres da sua vida?

Há também a questão da identidade. As mulheres de hoje vivem sob o olhar constante de um mundo que quer defini-las, categorizá-las, polarizá-las. Ou são demasiado tradicionais ou demasiado modernas, demasiado fortes ou demasiado frágeis, demasiado ambiciosas ou demasiado acomodadas. A pressão não vem apenas do exterior, mas de um ruído incessante que lhes diz que têm de ser sempre mais, fazer mais, provar mais. No meio disso, perde-se, muitas vezes, o essencial: a aceitação de que não precisam de corresponder a todas as expectativas, que há força na feminilidade e que a verdadeira igualdade não é ser igual ao homem, mas sim ser plenamente mulher, com tudo o que isso implica. E como pai, quero que a minha filha cresça a saber isso. Quero que saiba que pode ser forte sem se tornar dura, que pode ser feminina sem ser fraca, que pode escolher o seu caminho sem se sentir culpada. No final, ser mulher no século XXI é encontrar o seu próprio caminho entre as contradições da modernidade, sem negar a sua essência. É lutar, sim, mas também saber parar, respirar e escolher as suas batalhas. É reivindicar espaço, mas sem abrir mão da sua natureza. É, acima de tudo, ser dona de si mesma, sem se perder na necessidade constante de validação. E para nós, homens – maridos, pais, filhos –, talvez seja hora de deixarmos de lado os discursos e começarmos a perguntar: como podemos verdadeiramente apoiar e compreender as mulheres das nossas vidas?

Tags :
Medicina Chinesa

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